BEM-AVENTURADOS OS MISERICORDIOSOS! ...
Entre as pessoas que fazem jus a esta promessa de Jesus Cristo, gosto de lembrar a Sra. Virgínia de Almeida Xavier, a conhecida Dona Nenzinha, ali da ladeira Getúlio Vargas, com uma bonita e emocionante história.
Admiro-a com intensidade. Seu coração é um celeiro de virtudes, comprovadas, principalmente pelo carinho maternal que dá aos seus agregados: como se não bastasse a sua numerosa prole, suas noras e uma boa quantidade de netos desfrutando o seu amor! Além de tantos outros que dela se servem! É só chegar e os braços se abrem para uma recepção acolhedora.
Essencialmente cristã, vivendo no dia a dia o Evangelho, tem sido premiada com especiais concessões.
Fico embevecida ao vê-la contar o que lhe ocorrera quando estava prestes a se submeter a uma cirurgia de cálculo renal. Isto de deu em 1987.
Depois de ficar internada no hospital, em Bom Jesus onde permaneceu sete dias no C.T.I., desenganada pelos médicos, foi removida para Campos, na esperança de toda a família, de lá encontrar algum recurso que pudesse salvá-la.
Uma junta médica, confirmando o diagnóstico já formado, não via o caso com olhos de esperança, dado o enfraquecimento geral da paciente.
Desespero e aflição para seus filhos, que buscavam do Alto, pelas orações e súplicas, os recursos que a ciência médica não prometia dar. Cirurgia era a última apelação. Tudo já estava preparado para se investir na paciente, com a cartada final.
Sabem os que são firmes na fé e na esperança, que Deus tarda, mas não falha. Realmente. Antes de amanhecer o dia previamente marcado para a operação, Dona Nenzinha é agraciada com a benção do Pai, que lhe envia uma mensagem em sonho, através de Nossa Senhora Aparecida, a quem dedica especial devoção.
A princípio via somente a mãozinha da Santa que lhe indagou:
- Conhece esta mão?
- Sim, é de Nossa Senhora.
E o diálogo foi longo.
A Santa lhe disse que ela, a mãe de Deus, é uma só, atendendo por diversas denominações, tal como as pessoas também atendem por apelidos. E que a razão de aparecer escura é para trazer conforto e esperança aos negros que vivem sofrendo os preconceitos da discriminação racial.
A essa altura da conversa, Dona Nenzinha já podia vislumbrar totalmente o vulto da Santa.
Quando entraram no assunto da enfermidade, a mãe lhe dizia que a operação não iria acontecer, pois se isso ocorresse, ela, a paciente, não agüentaria. Mas a pedra nos rins ia desaparecer...
Contando aos filhos o sonho daquela noite, houve entre eles uma grande confusão espiritual.
Esperança e dúvida pesavam na balança da fé.
Tomavam vulto os preparativos para se cumprirem as determinações médicas.
Já na mesa cirúrgica, rodeada de dois cirurgiões, a paciente narrou-lhes o seu sonho.
Um deles, lamentavelmente incrédulo, falou a ela que somente com a operação a pedra seria tirada e sem qualquer garantia de vida. Nenhum recurso de Deus seria capaz de fazê-lo.
O outro, talvez levado pela sensibilidade cristã, sugeriu ao colega uma radiografia que pudesse, talvez, confirmar o sonho.
Irreversível na sua incredulidade ele discordava dessa ponderação.
Antes da anestesia geral, Dona Nenzinha sentiu uma dor aguda e falou aos médicos:
Acho que a pedra saiu, tal a dor que senti agora.
Os profissionais então, mais por insistência de um, resolveram submetê-la a uma radiografia prévia, que constatou, perfeitamente limpos os rins, sem qualquer vestígio de cálculos.
Beleza de fato! E, para alegria maior, com gente de nossa terra!
Fica aqui uma lição de Fé e Esperança aos que vacilam em momentos difíceis. Lição de vida cristã, vivida na simplicidade do amor sem preconceitos, despretensioso, puro e sem limites.
E então, a justiça nunca falha:
“Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão a misericórdia”!
Autora: Maria da Penha Borges R. Teixeira
Livro: São José do Calçado não cabe em apenas uma crônica – Mais de 120 crônicas de 55 autores calçadenses, escrevendo sobre o tema favorito de todos: a saudade de sua terra e de seu povo.
Coleção: “Escritos de Calçado” Ano 2004.